Só hoje me deparei com texto do Sr. Pedro Bidarra sobre o vídeo "Portugal, Portugueses" e senti vergonha e pena por ele, porque deve ser muito triste ver o mundo cheio de preconceitos, porque até se pode criticar a forma do vídeo, ou o próprio conteúdo, mas a forma como ele faz juízos de valor, como rebaixa toda uma indústria, as pessoas que trabalham numa indústria, incomoda-me e não só porque já fiz parte dessa indústria, mas também como portuguesa. Ofende-me que por interpelar um turista perdido e perguntar "Need help?" esta atitude que na minha bitola se chama de boa educação, solidariedade e quiçá simpatia seja diminuída como subserviência.
Eu deparei-me com este vídeo e este artigo de opinião através de um dos melhores blogs portugueses "Bad Girls Go Everywhere" e como acho que não consigo escrever melhor, deixo-vos com uma citação de parte do texto da Bad que podem ler na totalidade no blog dela (só pelo cabeçalho já vale a pena clickar no link) sob o titulo: Turismo
"(...)Diz-me a experiencia que o mal está quase sempre nos olhos de quem vê, e parece-me que o seu artigo na Dinheiro Vivo, seguido de pequenas réplicas pelas redes sociais fora é uma ofensa sobredimensionada e mal aplicada.Estou ligada ao Turismo (ora de forma directa, ora de forma indirecta) vai para 17 anos. Se há coisa que eu sei, que não mudou e que será sempre uma verdade absoluta nessa área, mais do que em outras, é que é um negócio de pessoas. Não se enganem com tretas de infra-estruturas, paisagens, comida e outras coisas. Pessoas. O Turismo é um negócio de pessoas.Não é para comer que as pessoas cá vêm. Portugal tem UM restaurante no ranking dos 50 melhores do Mundo. Está em 45º lugar. A nossa comida é boa, sim senhor. Mas é de restaurantes portugueses que o mundo está cheio? Não me parece.Talvez seja para beber. Afinal, estamos em 10º lugar nas melhores regiões de vinho do Mundo (França, Itália e França ocupam os primeiros três lugares).Não é pelo Património que as pessoas cá vêm. Portugal tem catorze sítios declarados pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade. Está em 18º lugar. Espanha, aqui ao lado, tem 44…Pelas praias. Será pelas praias? Não estamos no Top 10 no Guardian. Numa lista encabeçada por Espanha. Nem no Top 50 da CNN... Nem sequer no TripAdvisor.Para a prática do ski também é o que se sabe, não vamos lá das pernas.Não percebo, francamente, a “ofensa” generalizada. Certamente não entendo a repudia do Sr. Bidarra. Que acha que a Ana é uma rameira. Não sendo uma classe com a qual eu prive particularmente, parece-me difícil que, depois de "usar" a rameira, se feche com um "friends for life". Depois reclama que Avillez está a servir à mesa. E eu faço um daqueles esgares críticos, um misto de reprovação e de pena. Os Chefs, os bons, vão à sala falar com os clientes. Faz parte do trabalho deles. Parece que é uma coisa daquilo das relações públicas e de receber feedback do seu trabalho, ou isso. Quanto à senhora que se enrolou, diz o Sr. Bidarra, com o senhor do golfe, um bocadinho mais de atenção e daria para ler as coordenadas da mesma. Ela é de... Portugal. A senhora mudou de país por amor. Eu conheço gente assim. Que se enrolou com alguém que conheceu nas férias, no Erasmus ou até na internet, e que mudou de vida e de país. Se calhar tenho mais mundo, deve ser isso. E o senhor António, que dobra as toalhas e as camisas? O Ritz tem-nos. Chamam-seFloor Managers e encontram-se nos Four Seasons desta vida, por exemplo.Portugal é conhecido pelo seu povo hospitaleiro. A Ana não é uma rameira, certamente. A Ana pode muito bem ser a filha do leitor do Dinheiro Vivo, sim. A Ana é uma miúda que tem orgulho na sua cidade, que a conhece, e que a mostrou a uns estrangeiros que cá vieram. Não conte isto à Associação de Guias Interpretes de Portugal, Sr. Bidarra, mas isto acontece. E não envolve, necessariamente, a alcova. Lá estará, certamente, a interpretação, nos olhos de quem vê. Não somos criados, não somos servis. Somos hospitaleiros. Afáveis. Acolhedores. Somos corteses. E isso não está errado. É uma mais-valia que não se compra. Não se manda fazer. Não se ensina. A haver alguma coisa de errado com o filme (aos olhos de quem o vê, neste caso, eu) é o facto de ele existir. Não porque faz de Portugal um país de criados ou porque faz de nós umas rameiras e uns gigolôs. Mas se ele existe foi porque alguém achou necessário lembrar ao povo português para ele ser ele próprio. E isso não é justo."