Esta conversa vem a propósito de um e-mail que um amigo me enviou com uma história que ele presenciou, optei por transcrever o texto do Alexandre porque está muito bem escrito e porque tenho autorização (e também porque sou um bocadinho preguiçosa):
"Em parte devido ao tipo de vida que temos, somos forçados a comer muitas vezes fora e, como tal, já vamos conhecendo bem as casas, os empregados, o tipo de comida, o tipo de clientes, etc. Noutros casos até conhecemos os donos, alguns deles nossos clientes também.
Na passada Sexta-Feira, 14 de Setembro, fomos lá jantar. Eu cheguei primeiro com o meu filho e a minha mulher, depois de mais uma reunião, juntou-se-nos. A sala possui dois plasmas que estão normalmente a dar um qualquer canal com notícias ou então ligados à SportTv. Quando a minha mulher chegou, eram umas 21.15, 21.30 e a casa estava cheia, com mesas de grupos e tudo, o que é frequente naquele sítio. Pois bem, nós estávamos sentados perto do balcão do restaurante e de repente, apercebemos-nos de que quer o dono quer a filha andavam para trás e para a frente com o livro de reclamações, dizendo o dono, que se a pessoa queria o livro tinha que se identificar, ou algo parecido (nesta fase ainda não sabíamos o que se passava em concreto). A pessoa que queria reclamar eram um homem de uns 55/60 anos, muito distinto no seu pólo (Lacoste?) verde e que passeava de um lado para o outro da sala, mãos atrás das costas. Confesso que fiquei curioso, porque a nós também nos calha na rifa de vez em quando situações destas, mas não havia rebuliço nenhum era tudo muito calminho, muito soft. Até o dono, passada a primeira reacção estava já mais calmo. Logo a seguir, chegaram uns amigos da filha do dono, que por coincidência se sentaram ao nosso lado. A rapariga aproveitou para desabafar com esses amigos e nós, mesmo sem querer satisfizemos a nossa curiosidade.
Eu, quando ouvi o motivo da reclamação dei uma gargalhada, mas se fosse comigo não sei o que fazia. Felizmente que isso na minha casa não acontecia. Tanta conversa e afinal, qual era o motivo da reclamação? Muito simples: mudaram o canal da tv, da SporTv2 (dava o rugby) para a SporTv1 (futebol) sem pedir licença ao senhor! Como tal, entendeu Sua Eminência (parda, certamente) que era aquela desconsideração motivo suficiente para pedir o livro de reclamações. Quando eu digo que na minha casa tal não acontecia, é porque eu não tenho (propositadamente) tv no café. Assim, problema resolvido...
Perante o absurdo de uma situação destas, apetece perguntar: não deveriam os clientes andar também eles com um livro de reclamações? É que se assim fosse, havia gente que talvez pensasse duas vezes antes de abusar de um direito que lhe assiste, mas que é usado muitas vezes para descarregar, para evitar pagar contas, para tudo e mais alguma coisa menos para o fim a que se destina."